Todo rei tem seus súditos
É natural que, nos dois primeiros anos de vida, por conta das demandas naturais de um bebê, o filho seja, temporariamente, o centro das atenções na família. Entretanto, o que temos visto hoje em dia são crianças de todas as idades comandando a vida familiar e tomando a frente das decisões importantes.
É ela quem escolhe qual o programa vai ser visto na tv pela família, qual a música deve tocar no carro, se devem ou não ir para determinado lugar e qual será o jantar do dia. Com intenção de mostrar afeto e cuidado, os pais permitem que os filhos participem das decisões de forma que nada deve ser feito contra a vontade dos pequenos reis e rainhas. Acabam por inverter, assim, a hierarquia entre pais e filhos, perdendo o respeito e obediência dos filhos.
A criança deve se adaptar à rotina e regras da casa, e não ditá-las. Sem essa noção clara da hierarquia familiar, em que os filhos estão subordinados aos pais, as crianças perdem a sensação de proteção e de ordem transmitidas pelas figuras paterna e materna. Consequentemente, tornam-se adultos inseguros e com baixa tolerância à frustração.
Essa permissividade total em casa gera também uma dificuldade de aceitação e adequação ao mundo. A criança se vê como o centro do universo e não consegue aceitar limites. Durante esse momento de iniciação da sociabilização, geralmente, aparecem as primeiras questões de inadequação social.
Além dos prejuízos para a criança, esse grande poder dado a ela também interfere na vida conjugal dos pais, pois o papel de pai e mãe passa a ser priorizado a tal ponto que o de marido e mulher fica cada vez mais esquecido. Dessa forma, o casal se distancia e a noção do lugar da vida conjugal dentro do espaço familiar é perdida.
Porém, não basta olhar apenas para as consequências do comportamento das crianças, mas as causas também, principalmente. Não se deve esquecer que essa tendência de crianças super poderosas só acontece porque os pais permitem e incentivam que essa conduta seja perpetuada. Sugiro repensarmos o “não” como uma forma mais saudável de amar em relação ao “sim” sem limites.
Joana Cardoso é psicóloga especialista em transtornos alimentares. Realiza atendimentos individuais, de família e casal no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ.