A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO EM EQUIPE E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO TERAPEUTA
Chama minha atenção esse assunto, pois ao longo de minha caminhada profissional, fico me perguntando, como fui me construindo como profissional da área Psi. Acredito que o trabalho em equipe, as trocas que fiz e faço com colegas, outros profissionais, tem contribuído imensamente para isso.
Divido então com vocês, alguns aspectos que considero importante.
No atendimento em equipe, as diferenças individuais de cada um, surgem durante o processo, é preciso que haja bastante sabedoria e tranqüilidade para administrar e conviver com os conflitos que aparecem. Na minha experiência foi possível vivenciar várias situações que muitas vezes me deixou sem saber como agir.
Foi necessário ampliar meu foco de atenção e observação, pois era imprescindível perceber todas as nuances que envolviam o contexto presente e, o que não era dito explicitamente. Houve também aqueles momentos em que, apreensões, dificuldades, limitações, expectativas, sentimentos diversos, eram colocados na “Berlinda”. Havia uma troca, todos davam suas opiniões. Isso contribuiu para ampliação do meu olhar como profissional; hoje consigo pensar que um atendimento em equipe pode ser extremamente rico, dar uma variedade de informações e percepções que normalmente quando estamos sozinhos, não alcançamos.
Estamos cada vez mais envolvidos com movimentos corporativos, o avanço tecnológico, a necessidade das organizações de atingir um público maior, com resultados rápidos, tudo muito urgente, mas nem sempre eficaz,o que acabou criando um distanciamento afetivo, as trocas são feitas mais no virtual do que no real. As relações humanas ficaram comprometidas.
Apesar disso, as pessoas estão se dando conta, com passos muito lentos, que é necessário ampliar suas fronteiras de contato, tomar consciência de que não é possível realizar isoladamente grandes projetos, sem que as trocas aconteçam. No momento em que nos propomos a partilhar nosso conhecimento, nossa experiência de vida, nossas metas, estaremos no caminho para refletir e discutir sobre as várias possibilidades desse trabalho. Um bom trabalho em equipe pressupõe cuidados específicos, com valores sólidos e éticos, postura dos profissionais, comunicação, amadurecimento e ampliação da escuta , diferentes formas de pensar e agir pode complementar, qualificar aquilo que fazemos.
Descrevo a seguir alguns outros comentários de outros autores sobre o trabalho em equipe, o que espero nos fortaleça a consciência desta tarefa…
“A unificação dos profissionais não acontecem diante de tarefas específicas, mas sim no método de investigação comum”(Romano apud Rodrigues, 1992).
Nestas relações, segundo a autora, estão presentes todas as nossas emoções e resistências, por isso, também é muito difícil se construir um trabalho em equipe de forma rápida e imediata. O que víamos até bem pouco tempo e, ainda podemos observar em alguns setores são os profissionais se isolando em sua prática, detendo seu conhecimento só para seu uso pessoal. Atualmente trabalha-se mais para que estes tenham uma maior conscientização da ampliação e eficácia, nas trocas com outros profissionais.
O trabalho em equipe se diferencia do que chamamos trabalho multiprofissional, pois este determina a junção de vários e, diferentes profissionais trabalhando em prol de atender a uma determinada demanda, mas sem vínculos mais estreitos um com o outro, não há trocas entre os profissionais envolvidos; já o trabalho em equipe é a junção de diferentes profissionais com objetivos similares, neste caso, estão juntos para atender determinadas demandas e, dispostos a trocar, aprender uns com os outros a partir das experiências vividas, há uma interação e integração maior, implica em compartilhar, Integrar, comunicar, cooperar.
No trabalho em equipe há uma maior compreensão sobre as tarefas mais complexas, reavaliando e modificando posturas cristalizadas, aceitando o novo, o diferente como instrumento de contribuição para o desenvolvimento de seu potencial enquanto profissional
Para um trabalho significativo em equipe, é necessário estar com os olhos e o coração bem abertos, para viver o desconforto, a complexidade, o imponderável, conviver com a frustração de nem sempre dar conta de solucionar as questões, mas acreditar que junto com outros colegas pode se chegar a um ponto onde as soluções possam ser pensadas e redimensionadas juntos, superando os desafios que o trabalho muitas vezes nos traz. É necessário participar das ações do colega, ora como expectador, ora como ser atuante, o trabalho em equipe pode funcionar como uma dança bem articulada, onde os integrantes sabem o seu momento de atuar, de observar, de ouvir e de trocar.!! (Pinheiro,M. …)
Dificilmente se constrói um trabalho em equipe se a comunicação for truncada, distorcida, difícil.
Ciampa (1987) pontua que quando as pessoas se relacionam com as outras, promovem em si mesmas, uma transformação, uma metamorfose. Nem a natureza nem as pessoas, segundo Gadoffi (1983) não devem ser vistas como algo pronto e acabado,
Segundo Moscovici, a equipe quando já se reconhece como tal, aprende técnicas para enfretamento de conflitos, são técnicas de diálogo que incluem: apaziguamento, negociação, confrontação e resolução de problemas. Nesse último estágio, encontramos ainda duas fases importantes: diferenciação e integração.
Na primeira fase, há uma investigação detalhada e mais profunda das tensões existentes, o que leva a redução ou extinção de conflitos; na integração ocorre uma ressignificação dos problemas existentes, estabelecendo prioridades e novas alternativas para diferentes situações.
As equipes podem ter um caráter temporário, ou seja, podem ser criadas para solução de problemas emergenciais, são as chamadas força tarefa ou ter um caráter permanente, quando faz parte de um projeto mais amplo, dentro de instituições por exemplo, com objetivos mais duradouros e contínuos.
Outros aspectos necessários para se realizar um trabalho em equipe,:
Ter competência e habilidades para trabalhar com pessoas e lugares diferentes;
Manter sua individualidade, características pessoais preservadas;
Boa capacidade de respostas às diferentes situações e pressões externas.
Ter noção de coesão, envolvimento, boa integração com outros membros;
Ser comprometido com as tarefas e com o processo como um todo.
Ter recursos humanos e físicos disponíveis para o desenvolvimento e manutenção do projeto de trabalho;
Evitar perder tempo desnecessário com situações que não agreguem aos objetivos esperados;
Auto- avaliação permanente enquanto equipe/indivíduos.
Organização.
Compartilhamento das decisões e soluções.
Uma boa comunicação pode promover maior agilidade e eficácia no desenvolvimento do trabalho, permite maior aproximação e descoberta de afinidades, assim como o fortalecimento de vínculos,
Por outro lado, as distorções podem gerar:
Contradição na percepção de conceitos, palavras;
Percepção generalizada de assuntos, impedindo de focar nos fenômenos na hora em que acontecem.
Distanciamento entre os membros, provocando rupturas, desistência no processo de trabalho
Estudos mostram que trabalho em equipe nem sempre é aceito de imediato, há resistências daqueles que tem dificuldades para vivenciar mudanças, há uma dificuldade em se romper com a estagnação, é como se fosse romper com um equilíbrio, nem sempre saudável, mas que já se conhece. As mudanças não devem ser impostas, há de se ter um planejamento, para que os objetivos sejam alcançados, a comunicação deve ser contínua e eficaz.
Por tudo o que foi dito, entendemos que o trabalho em equipe é amplo, portanto, o profissional deve buscar a autenticidade, a coesão com outros membros, com menos intervenções, persuasões; a qualidade, produtividade, redução de custos.
Finalizando, entendo que nossa identidade como profissional se constitui e se constrói a partir das trocas que fazemos ao longo de nossa caminhada profissional, que junto com nossas vivências, experiências pessoais, colaboram para nosso crescimento e para a realização de um bom trabalho com quem nos procura. As contemplações dos fenômenos, podem levar à um ajustamento criativo e uma ampliação das fronteiras de contato.
BIBLIOGRAFIA:
MOSCOVICI, F. IN: Equipes Dão Certo – A multiplicação do Talento Humano. Rio de Janeiro, Ed. José Olympio, 2005.
PINHEIRO, M. IN: Equipe Reflexiva – Quais As Diferenças Que Criam Diferenças.
BOCK, A.M.B. – IN: A Psicologia a Caminho do Novo Século: Identidade profissional e Compromisso Social. Estudos de psicologia, 1999 – Natal.
ROMANO, W. B. IN; Princípios Para a Prática da Psicologia Clínica em Hospitais, São Paulo, Casa do psicólogo, 1999.
REIS, V. M. A, TONET H; BECKER JR.; LC. COSTA B.E.M.(Orgs) IN: Desenvolvimento de Equipes – Série Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 2005.
Lúcia Paulino Cruz é Psicóloga Clínica.Realiza atendimentos psicoterapêuticos à adolescentes, adultos, , casais no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ.